segunda-feira, 18 de abril de 2011

Série Pessoas da Moda: Mariane Cara

Entrevistei a Mariane Cara, de 34 anos, que tem uma relação muito bacana com a moda:
seu início foi aos 15 anos, estudando desenho de Moda e costura. Aos 18 começou a trabalhar, viajando o Brasil para ensinar computação gráfica para estilistas e designers têxteis. Depois disso fez de tudo um pouco, incluindo alguns trabalhos em Publicidade, uma das áreas que resolveu abraçar em conjunto com a Moda. Em 2007 concluiu o mestrado em comunicação e semiótica e logo após passou uma temporada na Alemanha, estudando Ciências da Mídia e conhecendo o varejo europeu. Atualmente desenvolve sua pesquisa de Doutorado na PUC-SP.
Mariane Cará


IDD: Como e quando você foi seduzida pelo mundo da moda?

Mari: Me apaixonei pela Moda ainda criança, em 1985, assistindo a primeira versão de Tititi. Amava ver os vestidos que a Dona Cecília (Nathalia Timberg) criava nas bonecas, e após cada capítulo, passava o resto da noite desenhando um monte de modelos.

IDD: É possível entender o comportamento humano por meio da moda?

Mari: Diria que é possível entender algumas nuances comportamentais por meio da Moda. Como uma exteriorização literalmente epidérmica do que sentimos, a moda também é um reflexo da sociedade, da cultura e do tempo que vivemos. Isso tudo auxilia na "embalagem" do comportamento humano.

IDD: Como você vê o mercado hoje? As pessoas ainda acham que moda é futilidade?

Mari: O mercado mudou muito desde o início dos anos 90. A verdade é que a indústria têxtil e de confecção sempre foi uma das principais fontes da economia brasileira, porém era pautada na informalidade. Somente no início do século XXI é que vemos esta indústria exigindo a devida profissionalização, graças às faculdades de Moda. Com isso, o número de pessoas que enxergam a moda como futilidade diminuiu bastante.

IDD: Como podemos ver a moda como ciência?


Mari: A moda é um mix tão grande de informações e influências, que é difícil situá-la numa caixinha exata como é o caso da ciência. Se pensarmos nas criações dos estilistas, podemos considerá-la enquanto arte, e aí não podemos encaixá-la enquanto ciência. Já os processos produtivos fazem parte do que conhecemos como Ofícios, tecnologia ou prática, que também escapam um pouco do conceito de ciência. Por fim, se focamos as mudanças efêmeras, encontramos relação direta com comportamento e com o Zeitgeist (espírito do tempo), nesse sentido sim, a Moda é um sistema cadenciado e ligado às ciências sociais aplicadas, onde podemos estudá-la pelo viés da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia, da Semiótica, dos Estudos de Gênero, dos Estudos do Corpo, da História e por mais outras tantas especialidades.

IDD: Para quem gosta do assunto, que cursos e livros você indica?

Mari: A área é tão extensa que é difícil citar apenas alguns cursos ou livros, mas um bom começo é fazer um curso livre, numa boa instituição, para assim conhecer as possibilidades de atuação e depois disso entrar na faculdade com um rumo mais acertado. E para quem já tem curso superior, existem muitas pós graduações em Moda dirigidas com seriedade, inclusive no sistema on line. Sobre bibliografia brasileira, temos a Editora Estação das Letras e Cores, que possui ótimas publicações na área, incluindo uma revista acadêmica que proporciona ótimos momentos de leitura: a Dobras.

IDD: Qual a sua opinião sobre parcerias entre empresas de bem de consumo com estilistas (ex: Karl Lagerfeld e Coca Cola Diet, Espaço Fashion para Nivea, etc)

Mari: As parcerias das empresas de bens de consumo com nomes consagrados da Moda é um movimento que dá a oportunidade para outros setores da economia se beneficiarem do sistema próprio da Moda, que envolve design, glamour, estetização, efemeridade, etc. Como o próprio Gilles Lipovetsky já anunciava em seu Império do Efêmero em meados dos anos 80, o capitalismo aproveita de muitas propriedades da Moda para sobreviver. 

IDD: Por que as mulheres consomem moda cada vez mais vorazmente?

Mari: Não sei se as mulheres consomem nos dias de hoje mais moda que antigamente. O que acontece é o maior acesso às informações de moda, principalmente a partir da internet e dos blogs específicos, que traduzem os conceitos para a consumidora final, numa rapidez incrível. Outro fator que tem contribuído é o extremo cuidado com a aparência e com o corpo.

IDD: Conte um pouco dos seus estudos na mestrado e doutorado

Mari: O mestrado foi um estudo semiótico de concepção Peirceana sobre a marcas de moda no universo jovem e o papel da mídia no reconhecimento das marcas e a memorização das mesmas. Defendi que as mídias no sistema semiótico atuavam como experiência colateral, um dos conceitos cunhados por Charles Sanders Peirce no início do século XX. Para o doutorado, continuo a analisar o público jovem, desta vez enfocando especialmente as garotas e a espetacularização dos corpos nas fotografias digitais que são publicadas nos perfis das redes sociais.

Gostou? Acesse o blog da Mari: http://matelasse.blogspot.com/


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