O que aprendi com as francesas

Estou lendo (e amando!) o livro Madame Charme da americana Jennifer Scoot. Durante seis meses ela morou na França e resolveu dividir tudo que aprendeu por lá, um verdadeiro guia de como se viver "à la française". São dicas gostosas e descontraídas de estilo, beleza e comportamento, relatando muitas histórias da família com a qual morou, principalmente de sua "mãe postiça", que ela carinhosamente apelidou de Madame Charme.

Enquanto lia o livro fui refletindo sobre a minha experiência de um ano em Paris. Não morei com uma família francesa mas, convivi com mulheres que me ensinaram muitas coisas que acabei por incorporar em minha vida. Pensando nisso, resolvi listar quais foram os aprendizados mais significativos que trouxe na mala!

Esse parece ser o mantra das francesas, em diferentes áreas. Elas costumam ter poucos e bons amigos, não exageram nas refeições, não usam muita maquiagem e nem se produzem excessivamente. Tudo é na medida certa, nunca exagerado. Isso foi algo que me impressionou muito porque por aqui impera a mentalidade do "quanto mais melhor" e, por lá, aprendi que a moderação é a chave da elegância (e sucesso!) das parisienses.

Você nunca vai ver uma francesa reclamar que o prédio dela não tem elevador ou que o supermercado mais próximo fica a 5 quadras da sua casa. Elas simplesmente vão (toda semana!), sem rodeios e sem cogitar ficar largada no sofá. O serviço de faxineira é caríssimo, por isso a maioria das francesas é quem cuida da limpeza de suas casas... Fazer a unha? Esqueça a boa vida de ir na manicure toda semana, são elas que cuidam de suas mãos. O legal é que elas encaram tudo isso como exercício!! Uma vez que passamos a incorporar essas tarefas de forma positiva e ainda aproveitar o benefício (perder calorias!), tudo fica melhor e a preguiça passa longe.

Isso chega a ser um pouco irritante para quem vem de outro país e desembarca num mar de mulheres tão cheias de si. Mas, depois de um tempo, você entende que essa auto confiança das francesas é um dos fatores que as tornam tão charmosas. Ao invés de ficar o tempo todo apontando seus defeitos e como gostariam de mudá-los, elas simplesmente se aceitam como são. Mas isso passa longe de um conformismo do tipo oh, vida oh azar! Elas incorporam suas "falhas" como parte de suas personalidades. Como assim? Um nariz grande vira charmoso quando sua dona o desfila por aí toda confiante. Cabelos rebeldes? Nada que um belo coque não resolva. Seios nada fartos? Abusam do decote e de blusas que dispensam o sutiã. E por aí vai....elas definitivamente sabem tirar proveito de tudo que Deus lhes deu ou esqueceu rs.

As francesas são magras e se preocupam com isso, mas não são neuróticas quando o assunto é regime. Essa cultura é tão incorporada ao dia a dia que você raramente verá uma mesa repleta de francesas conversando sobre dieta. Engana-se também quem pensa que é tudo sorte....claro que elas tem um biotipo mignon, bem diferente das brasileiras, mas o resultado é fruto do empenho em levar uma vida saudável. Os corredores de alimentos integrais nos supermercados são enormes, nunca tinha visto coisa igual! Fazer exercício é um tarefa rotineira, seja na academia ou um simples descer e subir de escada. Exageros (como vimos no item 1) não combinam com essas mulheres que jamais assaltarão a geladeira no meio da noite ou comerão um pote de sorvete num dia chuvoso. Ser saudável e magra é algo que elas aprendem desde pequenas e jamais esquecem (ou deixam de praticar!).

No metro, numa praça, num café... você sempre verá uma francesa com um livro! Toda vez que pegava o metro ficava impressionada com a quantidade de livros por todos os lados, dos mais variados assuntos, tamanhos, etc.... Elas não tem preconceito com o que se lê, o importante é ler, aprender e relaxar dentro daquele mundo de ficção. Sempre gostei muito de ler, mas com o passar dos anos esse hábito acabou ficando em segundo plano. Foi lá que retomei meu amor pela leitura, devorava quase que um por mês. Por aqui mantive o hábito e agradeço as francesas por terem trazido o mundo das letras de volta a minha rotina. Além desse universo, elas não perdem uma exposição, cinema, teatro...a rotina cultural francesa é intensa (e disso eu sinto muita falta!).